segunda-feira, 9 de março de 2015

Resenha: O Menino dos Fantoches de Varsóvia - Eva Weaver - Editora Novo Conceito



O Menino dos Fantoches de Varsóvia
Autora: Eva Weaver
Editora: Novo Conceito
Categoria: Drama
ISBN: 978-85-8163-417-3
400 Páginas
1º Edição – 2014


Sinopse


Mesmo diante de uma vida extremamente difícil, há esperança. E às vezes essa esperança vem na forma de um garotinho, armado com uma trupe de marionetes – um príncipe, uma menina, um bobo da corte, um crocodilo...
O avô de Mika morreu no gueto de Varsóvia, e o menino herdou não apenas o seu grande casaco, mas também um tesouro cheio de segredos. Em um bolso meio escondido, ele encontra uma cabeça de papel machê, um retalho... o príncipe. E um teatro de marionetes seria uma maneira incrível de alegrar o primo que acabou de perder o pai, o menininho que está doente, os vizinhos que moram em um quartinho apertado.
Logo o gueto inteiro só fala do mestre das marionetes – até chegar o dia em que Mika é parado por um oficial alemão e empurrado para uma vida obscura.
Esta é uma história sobre sobrevivência. Uma jornada épica, que atravessa continentes e gerações, de Varsóvia à Sibéria, e duas vidas que se entrelaçam em meio ao caos da guerra. Porque mesmo em tempo de guerra existe esperança...


Minhas Impressões


Quando pensamos na Segunda Guerra Mundial e todo potencial destrutivo que decorreu do conflito, um dos lugares que vem à mente é a cidade de Dresden na Alemanha. Dresden foi uma das cidades mais castigadas durante a guerra. A destruição e desolação da cidade só é comparada talvez com a destruição causada pela bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, ambos os casos por ataque dos “aliados”. A outra cidade que nos vem à mente é Varsóvia, Capital e cidade mais importante da Polônia, Varsóvia, se não foi uma das cidades mais destruídas foi com certeza uma das mais sofridas, subjugadas e que participou tanto da Primeira como da Segunda Guerra, principalmente da Segunda Guerra, e sempre como coadjuvante. Ironicamente Varsóvia em inglês é “Warsaw” que, traduzindo ao pé da letra significa “que viu a guerra”. A Segunda Guerra mundial teve início justamente com a invasão da Polônia pelo exército alemão em 1° de setembro de 1939. Logo depois é a vez do Exército Vermelho russo invadir o país. A Polônia teve em seu território duas potências lutando para dominá-la, e nenhuma das duas com boas intenções.

A história se passa naquele que é talvez o segundo lugar mais famoso da Segunda Guerra, o Gueto de Varsóvia. O primeiro, acreditamos que seja o campo de concentração de Auschwitz, também na Polônia. A história de Mika Hernsteyn e suas duas famílias é a história da Segunda guerra Mundial. Mika e sua família, assim como quase meio milhão de pessoas foram confinados em alguns quarteirões de um bairro de Varsóvia, e em 16 de novembro de 1940 foram enclausurados, cercados por um muro para lá morrerem ou serem deportados para morrer em outros campos.

Sabemos que houve vários tipos de perseguições, vários desdobramentos, o dia “D”, o suicídio de Hitler, mas o que marcou nessa guerra foi a perseguição e extermínio de milhares e milhares de judeus, inúmeras famílias arrancadas de seus lares, desprovidas de seus bens e depois de suas vidas, com um propósito que até hoje é difícil de compreender e talvez impossível de explicar. Dizer que, para uma raça perfeita (em um contexto muito específico) poder existir, é necessário o extermínio de outras, não explica 1% das atrocidades cometidas.

Muitas e muitas histórias já foram contadas, mas cada uma tem sua parcela do absurdo, do indescritível, com se estivéssemos tomando conhecimento desses acontecimentos pela primeira vez, a descrença no homem e na humanidade é total. Apesar disso temos exemplos de algumas tentativas de humanidade em meio a tanta barbárie. Uma das mais famosas é mostrada no filme “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, onde um simpatizante do nazismo e movido por interesses comerciais e lucro começa a ajudar vários judeus a escaparem dos campos da morte. Neste livro de Eva Weaver temos um soldado alemão chamado Max Meierhauser ajudando ou tentando ajudar Mika e sua família, talvez pelo fato de ter um filho da mesma idade, acabou simpatizando com Mika e seus fantoches. Mika foi praticamente obrigado por Max a fazer apresentações de sua trupe de fantoches para entreter os soldados alemães. Os fantoches, juntamente com um grande casaco eram a única herança de seu avô Jacob, que foi assassinado dentro do gueto. De certa forma o casaco e os fantoches acabaram salvando sua vida, e graças a uma grande dose de coragem de Mika, a de outras crianças também.




Existem relatos e até fotos tiradas nos gueto que mostram pessoas que usavam sua arte para confortar e tentar alegrar os companheiros e desconhecidos, e o mais difícil, até ganhar dinheiro ou comida. Algumas situações se parecem muito com a dos músicos no filme “Titanic”, onde eles tocavam para pessoas que lutavam desesperadamente por suas vidas e que nem notavam a presença deles. Por vezes no gueto as pessoas estavam tão desesperadas que não percebiam músicos ou outros poucos entretenimentos, até mesmo a morte ao redor já lhes era indiferente. Mika, além da obrigação com os soldados alemães, conseguiu dar um pouco de alegria e esperança a alguma crianças de um orfanato no gueto. Não por acaso era o orfanato de um dos mais célebres educadores poloneses, o Dr. Janusz Korczak que cuidou de suas crianças até o fim. Famoso e respeitado até por seus inimigos, mesmo tendo um salvo-conduto para deixar o gueto, preferiu ficar com suas crianças. Em 06 de agosto de 1942 o Dr. Janusz Korczak e todo o orfanato, cerca de 200 crianças, foram enviados ao campo de concentração de Treblinka. O final do filme “As 200 crianças do Dr. Janusz Korczak”, de Andrzej Wajda, mostra uma bela metáfora para a morte de todos eles.

A primeira família de Mika era composta de seu avô Jacob e de sua mãe Halina. Depois vieram seus primos, particularmente Ellie, com quem dividia as apresentações dos fantoches e por quem Mika acabou se apaixonando. Depois de seu avô e sua mãe, a pior perda para ele foi Ellie, a princesa guerreira, como ele a chamou na última em que estiveram juntos. Mika e Ellie lutaram com seus companheiros nos subterrâneos da rua Mila, Ellie não quis sair do gueto e preferiu lutar até o fim. As histórias de sobreviventes da Segunda guerra, principalmente judeus, são todas parecidas, são inúmeras histórias, muitas transformadas em livros, filmes e documentários. Mas cada sobrevivente tem a sua particularidade, o modo como conseguiu suportar todas as adversidades e sofrimento é único de cada pessoa, milhares de pessoas nas mesmas condições não conseguiram. Do mesmo modo temos as histórias de outros sobreviventes não judeus, inclusive soldados alemães, alguns dos quais até mesmo arriscaram suas vidas ajudando prisioneiros a escaparem, como Max.




O filme “O Pianista”, de Roman Polanski, cuja família também foi prisioneira nos campos, conta a história de Wladyslaw Szpilman, um sobrevivente que assim como Mika, foi prisioneiro no gueto com a família, entretinha os companheiros com sua arte, participou da luta com a resistência, conseguiu fugir do gueto e teve a ajuda de um soldado alemão. Não é explicado ou dado um motivo para essa ajuda do inimigo, mas talvez houvesse um resquício de humanidade em cada um, graças a eles muitas histórias puderam ser contadas, mas também milhares e milhares que nunca serão contadas. Em novembro de 2011 publicamos a resenha do livro “A Vida em Tons de Cinza” de Ruta Sepetys, onde uma família é enviada para um campo de trabalho na Sibéria. As histórias são parecidas e nesse caso a ajuda veio de um soldado russo, depois de muito sofrimento.

As palavras “Holocausto” e “Genocídio” são usadas quase que exclusivamente como sinônimos da “Solução Final” instituída pelos alemães para a “questão judaica”, ou seja, o extermínio completo de uma raça. Mas os russos conseguiram ser quase, ou em alguns casos, mais eficientes que os nazistas no extermínio de quem quer que fosse, incluindo seu próprio povo. O inverno siberiano funcionava muito melhor que armas, cercas e arames farpados, só perdiam em eficiência para os fornos crematórios. A capacidade de crueldade do ser humano não tem limites, apesar de tudo que aconteceu, de histórias que não nos deixam esquecer, ainda hoje temos conhecimento das mais diversas atrocidades contra minorias étnicas, religiosas, etc., ocorrendo no mundo. Resta a tênue esperança de que histórias como a de Mika e os fantoches despertem a razão para que nenhuma história parecida no futuro seja baseada em fatos reais.

2 comentários:

Lia Christo disse...

Nossa Gabi, que super resenha. O livro parece ter uma história forte e dramática.
Esta foi uma das épocas mais tristes e horríveis que a humanidade viveu.
Nem podemos imaginar tamanho horror e sofrimento que foi impetrado a estas pessoas, por simples capricho de loucos. Sua resenha foi perfeita amiga.
Bjus
Lia Christo
www.docesletras.com.br

Bibi Santos disse...

Morta de medo deste livro... #tenso

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