segunda-feira, 29 de julho de 2019

Resenha: Os Quase Completos - Felippe Barbosa - Editora Arqueiro





Os Quase Completos
Autor(a): Felippe Barbosa
Editora: Arqueiro
Categoria: Drama/Aventura
ISBN: 978-85-8041-813-2
 384 Páginas
1º Edição – 2018

Sinopse

O Quase Doutor é um renomado cardiologista que passa os dias em um hospital, mas no fundo é um artista frustrado. A Quase Viúva é uma professora que está de licença do trabalho para ficar com o noivo, em coma após um grave acidente. O Quase Repórter é um jornalista decepcionado com a profissão que sofre há mais de um ano pelo suicídio da esposa. A princípio, a única coisa que essas pessoas têm em comum é a sensação de incompletude e de desilusão com a vida.
Até que, um dia, o Quase Doutor é persuadido por um velho desconhecido a embarcar com ele em um ônibus rumo a uma jornada para se reconciliar com seu passado. Logo a viagem se transforma em uma aventura extraordinária e, em meio a fenômenos como uma chuva de estrelas cadentes, ele precisa fazer escolhas que mudarão seu destino para sempre.
Enquanto isso, eventos misteriosos levam a Quase Viúva a suspeitar que alguém dentro do hospital quer matar seu noivo e uma pesquisa minuciosa do Quase Repórter revela que sua esposa pode ter sido assassinada. Quando os dois tentam descobrir a verdade sobre seus amados, tudo leva a crer que a resposta está dentro do ônibus do Quase Doutor.
Reunidos num lugar que nunca imaginaram existir, os três serão forçados a enfrentar seus maiores medos e verão que, para se tornarem completos, precisarão encarar a batalha mais difícil de todas: aquela que travamos com nós mesmos.




Quando eu era pré-adolescente uma das músicas que eu mais gostava de escutar era “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, do U2. Ela explora a busca desesperada do ser humano pela sensação de plenitude. Ser completo é um conceito subjetivo e pessoal. Para cristãos, esse sentimento vem quando uma pessoa conhece a Deus e passa a viver sob o seus preceitos. Para alguém que anseia pela paternidade/maternidade, ele vem com a chegada da criança. Para trabalhadores ambiciosos, com a alta compensação financeira. Mas há também situações aparentemente irreversíveis que tiram do indivíduo aquilo que ele pensava ser seu tudo. E é em cima deste conceito que Felippe Barbosa desenvolve “Os Quase Completos”.

Seu enredo é sólido, com boas construções dos personagens principais e sábias escolhas de desenvolvimento, principalmente no que diz respeito aos pontos de tensão. Os aspectos surrealistas/fantasiosos da trama são bem dosados, com uma construção de universo eficiente. Os pequenos detalhes me agradaram bastante; os três incompletos são os pontos de vista dos capítulos, mas os do Quase Repórter são os únicos narrados por um narrador-observador, e o Quase Doutor é o único a não ter o nome revelado no início da trama. Todas essas escolhas possuem um porquê justificado na história. Os trechos que remetem a acontecimentos passados são pontuais e os diálogos, de uma forma geral, são simples e naturalmente coloquiais.

Os dilemas dos protagonistas são relacionáveis, o que os torna passíveis de identificação para o leitor. Eu em particular me vi na figura do Quase Doutor, porque muito de seu passado e parte das questões que o atormentam fazem parte de mim. E apesar dele dominar boa parte da narrativa não senti que houve predileção do autor, até porque esse foco é justificável dentro do contexto (estou evitando dar spoilers). O Quase Repórter possui um carisma peculiar em meio a sua amargura latente, e a Quase Viúva tem uma mistura interessante de ingenuidade com rebeldia. Os três não são unidimensionais, ou seja, não são definidos pelo mote de suas tramas (aquilo que lhes falta). Há construção completa de personalidades aqui.

O mesmo pode ser dito sobre os personagens secundários. Existem múltiplas visões sobre boa parte deles, mesmo que apenas um dos invíduos presentes no núcleo seja o guia do leitor para os acontecimentos. Mira, Carlos e Dolores são os que considero mais interessantes pelo serviço que prestam à narrativa, e aposto que o fofo Sr. Lorrac conquistará muitos amantes. O único aspecto que não gostei muito foi o uso em excesso de referências culturais para delimitar que parte da trama era ambientada em uma determinada década. Duas delas (o filme e uma das músicas) bastariam. Mas isso é uma opinião bastante particular, porque não é algo que atrapalha ou diminui as qualidades do livro.

Em suma, “Os Quase Completos” é um ótimo exemplar da nova safra de literatura nacional, ao provar que é possível criar uma trama instigante com elementos de gêneros específicos, de forma original e que não se mostra uma reprodução de tendências internacionais. A mensagem central do livro é algo que ficou comigo por muitos dias, e irá passear por sua cabeça ao longo e após da leitura: você é o responsável pela sua realidade. Às vezes, para se sentir completo, basta que a própria pessoa reconheça dentro de si o que realmente lhe fará feliz e se disponha a perseguir isso, apesar de tudo.

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