Os Quase
Completos
Autor(a): Felippe Barbosa
Editora: Arqueiro
Categoria: Drama/Aventura
Editora: Arqueiro
Categoria: Drama/Aventura
ISBN: 978-85-8041-813-2
384 Páginas
1º Edição – 2018
384 Páginas
1º Edição – 2018
Sinopse
O Quase Doutor é um renomado cardiologista que
passa os dias em um hospital, mas no fundo é um artista frustrado. A Quase
Viúva é uma professora que está de licença do trabalho para ficar com o noivo,
em coma após um grave acidente. O Quase Repórter é um jornalista decepcionado
com a profissão que sofre há mais de um ano pelo suicídio da esposa. A princípio,
a única coisa que essas pessoas têm em comum é a sensação de incompletude e de
desilusão com a vida.
Até que, um dia, o Quase Doutor é persuadido por
um velho desconhecido a embarcar com ele em um ônibus rumo a uma jornada para
se reconciliar com seu passado. Logo a viagem se transforma em uma aventura
extraordinária e, em meio a fenômenos como uma chuva de estrelas cadentes, ele
precisa fazer escolhas que mudarão seu destino para sempre.
Enquanto isso, eventos misteriosos levam a Quase
Viúva a suspeitar que alguém dentro do hospital quer matar seu noivo e uma
pesquisa minuciosa do Quase Repórter revela que sua esposa pode ter sido
assassinada. Quando os dois tentam descobrir a verdade sobre seus amados, tudo
leva a crer que a resposta está dentro do ônibus do Quase Doutor.
Reunidos num lugar que nunca imaginaram existir,
os três serão forçados a enfrentar seus maiores medos e verão que, para se
tornarem completos, precisarão encarar a batalha mais difícil de todas: aquela
que travamos com nós mesmos.
Quando eu era pré-adolescente uma das músicas que eu mais gostava de escutar era “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, do U2. Ela explora a busca desesperada do ser humano pela sensação de plenitude. Ser completo é um conceito subjetivo e pessoal. Para cristãos, esse sentimento vem quando uma pessoa conhece a Deus e passa a viver sob o seus preceitos. Para alguém que anseia pela paternidade/maternidade, ele vem com a chegada da criança. Para trabalhadores ambiciosos, com a alta compensação financeira. Mas há também situações aparentemente irreversíveis que tiram do indivíduo aquilo que ele pensava ser seu tudo. E é em cima deste conceito que Felippe Barbosa desenvolve “Os Quase Completos”.
Seu enredo é sólido, com boas
construções dos personagens principais e sábias escolhas de desenvolvimento,
principalmente no que diz respeito aos pontos de tensão. Os aspectos
surrealistas/fantasiosos da trama são bem dosados, com uma construção de
universo eficiente. Os pequenos detalhes me agradaram bastante; os três
incompletos são os pontos de vista dos capítulos, mas os do Quase Repórter são os
únicos narrados por um narrador-observador, e o Quase Doutor é o único a não ter o
nome revelado no início da trama. Todas essas escolhas possuem um porquê
justificado na história. Os trechos que remetem a acontecimentos passados são
pontuais e os diálogos, de uma forma geral, são simples e naturalmente
coloquiais.
Os dilemas dos protagonistas
são relacionáveis, o que os torna passíveis de identificação para o leitor. Eu
em particular me vi na figura do Quase Doutor, porque muito de seu passado e
parte das questões que o atormentam fazem parte de mim. E apesar dele dominar
boa parte da narrativa não senti que houve predileção do autor, até porque esse
foco é justificável dentro do contexto (estou evitando dar spoilers). O Quase
Repórter possui um carisma peculiar em meio a sua amargura latente, e a Quase
Viúva tem uma mistura interessante de ingenuidade com rebeldia. Os três não são
unidimensionais, ou seja, não são definidos pelo mote de suas tramas (aquilo
que lhes falta). Há construção completa de personalidades aqui.
O mesmo pode ser dito sobre os
personagens secundários. Existem múltiplas visões sobre boa parte deles, mesmo
que apenas um dos invíduos presentes no núcleo seja o guia do leitor para os
acontecimentos. Mira, Carlos e Dolores são os que considero mais interessantes pelo
serviço que prestam à narrativa, e aposto que o fofo Sr. Lorrac conquistará
muitos amantes. O único aspecto que não gostei muito foi o uso em excesso de
referências culturais para delimitar que parte da trama era ambientada em uma
determinada década. Duas delas (o filme e uma das músicas) bastariam. Mas isso
é uma opinião bastante particular, porque não é algo que atrapalha ou diminui
as qualidades do livro.
Em suma, “Os Quase Completos”
é um ótimo exemplar da nova safra de literatura nacional, ao provar que é possível
criar uma trama instigante com elementos de gêneros específicos, de forma
original e que não se mostra uma reprodução de tendências internacionais. A mensagem
central do livro é algo que ficou comigo por muitos dias, e irá passear por sua
cabeça ao longo e após da leitura: você é o responsável pela sua realidade. Às
vezes, para se sentir completo, basta que a própria pessoa reconheça dentro de
si o que realmente lhe fará feliz e se disponha a perseguir isso, apesar de
tudo.